Editora Horizonte. 95p.
Sinopse: O ponto de partida da novela Corações suspensos no vazio é o episódio tristemente real: em agosto de 2004, sete moradores de rua foram atacados e mortos enquanto dormiam no centro de São Paulo, porém os autores do massacre, embora identificados, continuam impunes até hoje.
Arlindo Gonçalves lança mão da literatura para falar sobre a banalização da vida, em que o capital empurra para longe de nossos olhos a miséria: seu produto menos desejável.
Arlindo Gonçalves lança mão da literatura para falar sobre a banalização da vida, em que o capital empurra para longe de nossos olhos a miséria: seu produto menos desejável.
Esse é um livro diferente de tudo o que eu já li. Li rápido, ele é bem fininho, mas suas palavras causaram-me um impacto que não sei descrever.
Fala sobre aquele fatídico dia, do qual muitos de nós nos lembramos, em que, numa madrugada, jovens encapuzados mataram a pauladas um grupo de moradores de rua que dormia na praça da Sé. O motivo? Diversão. O desfecho? Nenhum. Estão livres, leves e soltos até hoje. E a partir desse, muitos outros ataques aconteceram pelo país. E, claro, não podemos nos esquecer do horror que fizeram com o índio Pataxó, anos antes. Pela mesma diversão.
E enquanto esses horrores são cometidos, muitos de nós simplesmente fecham os olhos, mudam de canal quando vê esse tipo de notícia na TV, com o pensamento: Ah, isso acontece todo dia... O importante é que graças a Deus eu estou bem.
Chega. Voltemos ao livro.
Arlindo Gonçalves escreve um romance baseado naquele dia. Tudo se passa em único dia. Os personagens não têm nome. Os principais são conhecidos como O Velho, A Velha e O Jornaleiro.
Numa manhã de Agosto, depois de acordar, o Velho se sente triste e diz à sua companheira, A Velha, que precisa de um tempo sozinho. Marca de encontrar-se com ela num determinado horário, num determinado lugar e assim vai.
Encontra com algumas moças fotografando os lugares onde dormiram mendigos e pergunta-se o motivo que as leva a fazer isso. Seja lá o que for, ele não se sente animado. Com a tremedeira forte já se manifestando, tira a garrafa de cachaça do bolso, toma e segue seu caminho. Passa por uma lanchonete e a televisão lhe chama a atenção para alguma coisa. Ao entrar, o rapaz pede que ele se retire e espere lá fora. Se ele obedecer, ganhará um pãozinho. O Velho obedece. Ganha o pãozinho e um café. Depois, segue seu caminho.
Durante suas andanças, lembra-se da vida que levara antes: tradutor, professor de inglês, casado... Lembra-se de sua infância, da morte do irmão dos amigos que perdeu, do divórcio e do motivo que o levou ao estado em que se encontra hoje. Mas, ao final de tudo, sorri, porque tem A Velha.
Enquanto o Velho passeia, A Velha fica um tempo por ali, perto da banca do Jornaleiro, onde ela e o Velho sempre dormem. Vê as fotógrafas também. E vê uma outra “companheira” de rua aproximar-se das moças. A mulher tenta lembrá-las de que ela era a professora com quem já fizeram uma matéria uma vez e pede ajuda, pois roubaram sua banquinha de café e agora ela perdeu seu sustento. Uma das moças, querendo se livrar logo da mulher, entrega-lhe seu cartão, diz para procurá-la (escrever sobre mendigos e injustiça social é uma coisa, mas ter contato com eles é outra bem diferente, não é?) e ambas se afastam. A Velha ouve a conversa e, por algum motivo que não sabe explicar, segue a professora. Mais tarde, ambas sentadas num banco de praça, cada uma conta sua história. A professora relembra dos tempos de magistério. A Velha, conta sobre a cadeia. No fim das contas, a professora convida a Velha e seu companheiro para passarem a noite com o grupo dela em outra praça. Disse que eram boa gente. Ambos aceitaram. E lá seguiram todos para a praça, de onde apenas um deles conseguiu sair.
Gente, não tenho mais o que dizer.
Obrigada à Editora Horizonte, por me presentear com esse livro.
E parabéns ao Arlindo Gonçalves por não fechar os olhos e não se calar. A ele, todo o meu respeito e minha admiração.