Vulgo Grace - Margaret Atwood

Título original: Alias Grace
Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Páginas: 496

“Posso me lembrar do que disse quando fui presa, e o que o Sr. MacKenzie, o advogado, disse que eu deveria dizer, e o que eu não disse nem a ele; e o que eu disse no julgamento, e o que eu disse depois, que também foi diferente. E o que McDermott disse que eu disse, e o que os outros dizem que eu deveria ter dito, pois sempre há quem lhe forneça seus próprios discursos, e os coloque em sua boca por você também; e esse tipo é como os mágicos que podem projetar sua voz, nas feiras e espetáculos, e você é só o boneco de madeira deles. E foi assim no julgamento, quando eu estava na cadeira dos réus, mas bem poderia ser feita de pano, recheada, com a cabeça de louça; e eu estava trancada dentro daquela boneca que era eu mesma, e minha verdadeira voz não podia sair.”


Grace Marks foi uma notória mulher canadense na década de 1840 (e depois disso também), conhecida como uma célebre assassina. Na época, ela tinha apenas dezesseis anos e trabalhava como serviçal em casas de família.
Grace foi acusada de ter sido cúmplice no assassinato do Sr. Kennear, para quem trabalhava, e de Nancy Montgomery, governanta e amante do patrão. Num primeiro momento, ela foi sentenciada à morte por enforcamento, mas depois sua pena foi comutada para prisão perpétua na Penitenciária de Kingston.
O caso de Grace dividiu opiniões. Enquanto uns a odiavam e queriam que ela fosse de fato enforcada, outros acreditavam cegamente na sua inocência e faziam de tudo para tirá-la da cadeia, incluindo protestos e abaixo-assinados.
Isso acabou despertando a curiosidade do Dr. Jordan Simon, que passou a visitar Grace na penitenciária todos os dias, pedindo que ela lhe contasse toda a sua vida até o dia em que havia sido sentenciada, bem como sua passagem pelo manicômio depois disso.
Assim, ela começa a relatar ao médico, dia após dia, todos os detalhes e sofrimentos – que não foram poucos – de sua vida e como tudo isso colaborou para que ela se tornasse a pessoa que é hoje.
A intenção de Jordan era determinar se Grace estava louca na época dos assassinatos, já que ela alega não se lembrar de ter tido qualquer participação nas mortes em si, a não ser pelo fato de ter ajudado o assassino a carregar os corpos.

Afinal de contas, Grace Marks foi culpada ou inocente?
Não sei. Aliás, antes de continuar, devo informar-lhe, caro(a) leitor(a) de que, se você ainda não sabe, esta é uma história real. Ao recontar a história de Grace, Margaret Atwood não alterou nenhum dos fatos já conhecidos, apenas reescrevendo-os na forma de novela.
Continuando, eu ainda não consigo saber o quanto gostei do livro. Para eu me empolgar de verdade com uma leitura, eu preciso me apegar aos personagens, ter empatia por eles, o que não aconteceu com Grace. Não porque ela seja um personagem desinteressante, muito pelo contrário, mas porque ela não permite que nós, leitores, nos aproximemos.
Quem foi Grace Marks? Não sei. Ela não me permitiu conhecê-la. Sei de coisas que lhe aconteceram, de alguns de seus medos e até mesmo alguns de seus pensamentos e desejos. Mas consegui me aproximar dela através desses relatos? Não. Grace Marks só nos revela o que quer revelar, impondo limites sobre até onde podemos, de fato, nos aproximar de sua intimidade.
O livro está muitíssimo bem-escrito, foi o primeiro de Margaret Atwood que eu li e com certeza quero ler outros da autora, mas senti falta da conexão com os personagens – que, na verdade, foram pessoas reais.
Aí, terminando de ler o livro, fui assistir à minissérie em 6 capítulos produzida pela Netflix e, pra ser sincera, a série me ajudou a gostar um pouco mais da história. Apesar de algumas diferenças, posso dizer que a produção se manteve bem fiel ao livro, incluindo a maioria dos diálogos. Gostei bastante da minissérie e recomendo bastante. Ela me ajudou a me sentir um pouco mais próxima de Grace ao vê-la “em carne e osso”.







E, mesmo com a falta de conexão, recomendo a leitura do livro, uma vez que, como eu já disse, a escrita de Margaret Atwood é primorosa e envolvente.



Abaixo, o trailer da minissérie produzida pela Netflix.




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